domingo, 26 de junho de 2011

Ritmo (parte II)

Um dos primeiros elementos do ritmo de um poema é o número de sílabas do verso, chamado de metro.

Contam-se as sílabas de um verso igual a das palavras, só que terminando na última sílaba tônica, mesmo que haja outras sílabas depois desta.

Por exemplo, o verso “No meio do caminho tinha uma pedra” tem 12 sílabas. Já os versos

Rua
torta

Lua
morta

do poema “Serenata Sintética”, de Cassiano Ricardo, possuem uma sílaba.

Além do número de sílabas, é possível identificar sílabas fortes e fracas em um verso.

Os versos

“Tu ontem
na dansa
que cansa.
Voavas
Co´as faces”, etc.

do poema “A Valsa”, de Casimiro de Abreu possuem dois versos com uma sílaba forte no segundo verso. Devido a isso, diz-se que a estrutura rítimica destes versos é E.R 2 (2).

Já o verso

“As armas e o Barões assinalados”

de “Os Lusíadas”, de Camões possui uma estrutura ritmica E 10 (2,6, 10).

O importante em relação ao tamanho e à acentuação dos versos é observar como eles empresatam um ar solene, como é o caso dos decassílabos (versos de dez sílabas), ou uma forma mais comum à fala,como são dos hectassílabos (versos de sete sílabas) ou redondilha maior. Como outros dão uma musicalidade maior ou menor, de acordo com o tema que se aborda, entre outros aspectos.

Já observamos em postagem anterior o quanto o verso “No meio do camuinho tinha uma pedra” é semelhante, nas palavras usadas (excluindo a pedra) e no ritmo, a “Em mezzo del caminho de mi vida”, de Dante, da Divina Comédia, fazendo, desse modo, uma alusão a este. Alusão esta que, no entanto, é irônica, na medida em que o verso de Dante, que é solene e clássico, é interrompido pela pedra de Drummond de Andrade.
Já no verso

“Café com pão,
manteiga não”,

O ritmo do poema imita o ritmo do trem ao qual o mesmo faz alusão.

Exercício n.1
Procure ler diversos poemas, identificando a estrutura ritmica dos mesmos, observando o quanto esta está relacionada ao que o poema diz em termos verbais.

Exercício n.2
Procure escrever um poema onde o aspecto ritmico seja tão ou mais enfatizado do que o próprio aspecto verbal.

Ricardo Lopes é professor e escritor de poemas e peças teatrais. É autor da peça “Mãe ou o antiédipo”, premiada em 2º lugar no Concurso Carlos Carvalho de Dramaturgia, em 2001, da Prefeitura de Porto Alegre.

Não deixe de postar o seu exercício e de indicar este blog a quem possa se interessar pelo mesmo.

Para um atendimento particular sobre a prática poética, entre em contato pelo telefone (Rio de Janeiro/Brasil) 0 21 22011212 / 021 94082693

e-mail riclopp@ig.com.br

quinta-feira, 23 de junho de 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O Ritmo

O ritmo é uma das principais características da poesia, a ponto de alguns autores, como, por exemplo, Otávio Paz, acreditarem que este se trata do principal diferencial entre prosa e poesia.

Todo poema apresenta um ritmo que o distinguirá de um outro texto que não seja poético.

O ritmo nasce, intencionalmente ou não, no plano sonoro da linguagem, com da combinação entre sílabas tônicas e átonas e outros efeitos sonoros, considerando as pausas.

Há sempre uma íntima relação entre o ritmo de um poema e o que ele quer dizer, ou efetivamente diz. Desse modo, toda análise poética deve considerar tantos os aspectos verbais e relativos ao significado das palavras quanto os aspestos sonoros destas últimas.

Um dos primeiros aspectos do ritmo é a metrificação, que é a contagem das sílabas de um verso, e a combinação de versos com metros iguais ou diferentes, conforme o caso.

Contam-se as sílabas de um verso da mesma forma que se contam as sílabas de uma palavra, só que se para a contagem na última sílaba tônica de cada verso.

O mais importante é sentir o ritmo de modo a fazer com que o som e a musicalidade do poema este de acordo com aquilo que o autor diz no poema.


Veja como o ritmo funciona em um poema como “A Valsa”, de Casimiro de Abreu.


Tu ontem,
Na dança,
Que cansa
Voavas co´as faces
Em rosas
Formosas
De um vivo
Lascivo
Carmim.

Os versos são de duas sílabas, com exceão do 4º verso, parecendo com o ritmo da valsa, de três tempos, já que, na contagem de sílabas poéticas, não se contam as sílabas após a última silaba tônica. Desse modo, o ritomo de adequa ao tema do poema.

Antes de nos apronfundarmos na análise do ritmo na poesia, procure realizar o exercício abaixo:

Exercício
Escolha um verso, criado por você ou retirado de um poema de um outro autor. Em seguida, procure alterar o ritmo deste verso, dando ao mesmo um outro sentido ou significado. Seja com a repetição deste mesmo verso ou com o acréscimo ou a supressão de alguma de suas palavras.

Exemplo:

Verso: No meio do caminho tinha uma pedra (do poema “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade).

No meio do caminho tinha uma pedra

No meio
Uma pedra

Caminho
no meio.
Caminho.

Caminho,
uma pedra,

Uma pedra,
Uma pedra.

Tinha
Um caminho.



Ricardo Lopes é poeta, escritor e professor. Autor da peça "Mãe ou o antiédio" premiada em 2o. lugar no Concurso Carlos Carvalho da prefeitura de Porto Alegre, no ano de 2001.

Não deixe de postar o seu poema, exercício uma perguta (que será respondida ) e de indicar este bolg a quem possa se interessar pelo mesmo.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Enumeração, Acumulação, Ampliação e Enumeração Caótica

Nesta postagem, vou abordar as figuras da enumeração, acumulação, ampliação e enumeração caótica. Todas juntas, porque elas são muito semelhantes entre si, além de estarem relacioandas.

Enumeração

Chama-se enumeração a menção a de determinados termos ou qualidades, características, etc., de alguma coisa.

Por exemplo:

Um discípulo
Jesus,
podia dar-me um conselho?

Jesus
Dois até.

Discípulo
Então me diga:
Qual o é
o caminho,
estrada,
teologia,
atalho,
filosofia,
religião
ou seita
que eu devo seguir?

(Do Envangelho de Cristo, de Ricardo Lopes)

Acumulação

Já a acumulação é uma enumeração que se acumula. Isso é o que se dá no próprio poema acima, quando o discípulo continua a enumerar o que ele deseja saber de Jesus Cristo.

Discípulo
Como devo viver?
Sob qual o princípio
ou fim...

Com que meio?
Bíblia,
livro,
dália,
manual,
caderno...

Com que roupa
ou coisa que o valha
que eu devo pregar?

Como é que é que se reza
ou ora?


Ampliação

Quanto a ampliação é uma enumeração que se acumula, geralmente ampliando as características de cada um destes termos.

Enumeração Caótica

Por fim, a enumeração caótica, é uma enumeração cujos termos não possuem nenhuma relação entre si, sendo até mesmo díspares.

No poema que citamos acima, há quase que uma enumeração caótica, na medida em que o que cada coisa que é enumerada, em alguns casos, não possui uma relação para com as outras.

Discípulo
Como posso curar
com o dedo?
Fazer ressuscitar,
sumir?

Como se predizer
futuro,
advinhar passado
ou número de dado?

Jesus
Todo número é um.

Discípulo
Jesus, me ensina a ler
mãos,
búzios,
baralho,
olhos,
tarôt,
cristal,
oráculo
ou bula de remédio?
Jesus, me cura o tédio ?!

Como fazer milagre,
magia,
prestidigitação.

Andar sobre o mar
ou sobre o chão,
voar...

Aprender a somar,
montar equação.
E multiplicar pão
e peixes,
paus,
moedas...

Ah! Como saber ler pedras...?

Ricardo Lopes é professor, poeta e dramaturgo. Premiado com a peça “Mãe ou o antiédipo” no Concurso de Dramaturgia CarlosCarvalho, da Secretaria de Cultura da Preefeitura de Porto Alegre no ano de 2001.

Não deixe se postar o seu exercício ou poema para que eu o analise ou comente.

Não deixe também de indicar este blog a quem possa se interessar por ele.
Na próxima postagem realizarei um comentário sobre o exercício que desenvolvi acima.

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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Poema com o uso da figura da repetição

Morrer de amor
(mas sem morrer)

Há uma dor maior que a dor de não te ver.
É a dor de ver-te, ver sem poder te ter.
Morrer de amor em frente ao amor, morrer
de dor de amor maior, maior que a própria dor
de amor, tanto amor que, para não doer,
o que se quer? Morrer. Morrer, morrer, morrer...
Mas da qual não se morre, não se morrer ao morrer,
só pra ainda mais doer. Doer, doer, doer...
Não morre pra doer. Pra doer de morrer
de dor de amor, morrer. Morrer, mas sem morrer.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mais Repetição

Há diferentes tipos de repetição. A repetição pura e simples é chamada de “epanalepse”. E é esta que temos visto até agora. Além do “quiasmo”, que é a repetição invertida. Exemplo: “No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho” (Drummond de Andrade).

A repetição de uma palavra no início de um verso e no início do seguinte é chamada de anáfora.

Exemplo:

“É preciso casar João
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos”

(“Poema da Necessidade”, Carlos Drummond Andrade)

E porque fez tanta coisa ou nada fez
Ou não multiplicou pães pra toda gente
Ou porque não tinha trinta e um dinheiros
Ou porque não havia vinho suficiente.

(De um Evangelho de Um Cristo, Ricardo Lopes)

A repetição de uma palavra no final de dois ou mais versos consecutivos chama-se epístrofe ou epífora.

“Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
Á parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”

(Poema de Tabacaria, Álvaro de Campos)




Reduplicação é a repetição de uma mesma palavra ou expressão duas vezes seguidas no mesmo verso.

“Não, não quero nada
Já disse que não quero nada”

(Lisbon Revisited, Álvaro de Campos)

O exemplo acima possui uma reduplicação e uma epífora ou epístrofe.

Já a repetição de uma palavra no início e no final deste mesmo verso é chamada de epanadiplose

“Nada me prende a nada
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo”

(Lisbon Revisited, Álvaro de Campos)

“Não vim trazer a paz na Terra, vim
trazer espada, vim trazer a guerra”.
(De O Evangelho de um Cristo, Ricardo Lopes)

E a repetição no final de um verso e no início do seguinte é chamada de anadiplose.

Transformou àgua em vinho,
Vinho em vinagre”.

(Do Evangelho de um Cristo, Ricardo Lopes)

Observe como seria diferente se o poema acima, ao invés de se apresentar desta forma fosse escrito do modo abaixo:

“Transformou água em vinho
e este em vinagre”.

Ou, ainda, desta outra forma.

“Transformou água em vinho
e este último em vinagre”.
No entanto, como já dissemos, pouco importa o nome de tais repetições. O importante é saber de sua existência e como elas podem ser aplicadas.

Exercício

Escolha algumas formas de repetição. Procure construir um ou mais poemas com estas repetições

Exemplo:

Para não perder o hábito, uso, novamente, da expressão tão comum que é “eu te amo”.

1º exercício

Se eu te amo

Se eu te amo ? Eu ?
Se eu te amo ?
Eu ? Eu
não.

2º exercício

Eu não te amo

Eu não te amo. Não
Amo a ninguém. Não
Amo. Amo não Eu
Não amo nem eu não.
Amo não.

Tais exercícios não são necessamente poemas, mas exercícios. Servem para treinar a técnica, aprendendo a controlá-la, de modo poder utilizá-la quando necessário.
O importante é estar treinado de modo a que, quando nós quisermos escrever algo, possamos utilizá-las. Ou que as tenhamos de tal maneira apreendidas, de tal modo, que elas venham “naturalmente”.

Ricardo Lopes é professor, poeta e dramaturgo

Não deixe de postar o seu exercício e de indicar este blog a quem possa se interessar pelo mesmo.

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